segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Daniel Abrunheiro


Daniel Abrunheiro, poeta convidado


LENDO E VENDO E SENDO de Duarte Belo,
NO NÚCLEO DA CLARIDADE – entre as palavras de Ruy Belo


para o dito Duarte, naturalmente

Leiria, quarta-feira, 30 de Novembro de 2011


Melhores dias não virão talvez
salvar-nos da carestia anunciada
de de borla morrer e de viver pra nada
a meio da graciosa desgraça do português
como este-aquele ali, que pelas esplanadas
pedincha o cêntimo para a sopa, o tostão pró-pão,
por sua alma de cristão que é para pão, 
pela pobreza da minha roupa que é prá-sopa,
isto não é que me comova mas amargura-me,
mais de meia população vive do ar, que não da terra,
o resto vai a pé a Fátima ver a boneca, cura-me,
ó Virgem de louça, da cegueira que nos aterra,
não, melhores dias não virão,
sabeis,
mas não tarda será Verão,
vereis.

*
Cresceram duas mãos de homem
ao cabo dos meus braços de menino:
vou para velho, não mais já jovem
– dizem que é fado, que é destino. 
*
Estou aqui sentado entretido a ser português
ao sol morno e manso qual leão saciado.
Eu já nunca mais para sempre vivo outra vez,
é melhor portanto curtir o banco encontrado. 


*
Acaba-se-nos hoje o mês
O primeiro Novembro a seguir à vida
da minha Mãe
Não é fácil nem tenro nem terno
ser um órfão descriado à beira
do Inverno.




(Fotografias de Ruy Belo, montagem de Duarte Belo)


Daniel Abrunheiro, diz sobre si mesmo: nasci em Coimbra no mês de Maio de 1964. Publiquei quatro livros e tenho duas filhas. Os livros chamam-se Cronicão (2003), O Preço da Chuva (2006), Licor, Sabão e Sapatos (2007) e Terminação do Anjo (2008). As meninas chamam-se Leonor (1993) e Teresa (2000).

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